Redemocratização da América Latina

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     As principais ditaduras da América Latina ocorreram no Brasil, no Chile, na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e na Bolívia, sendo todas elas muito violentas; entretanto, alguns historiadores afirmam que a ditadura chilena foi a que possui maior caráter de repressão e violência. Todos esses regimes totalitários perduraram durante alguns anos, uns mais, outros menos, mas nenhum deles foge da classificação de um governo que censurou o país, censurou até mesmo a censura.
     Contudo, todos esses governos ditatoriais, em algum momento, tiveram seu processo de abertura política. No Brasil, essa abertura teve início no governo de Ernesto Geisel. O presidente desejava que a redemocratização do Brasil fosse um processo lento, gradual e seguro, afirmando que deste modo seria melhor para toda a nação, porém, este era apenas o melhor meio para o governo, que mesmo durante um processo de abertura política ainda assim poderia controlar seu povo. Então, deste modo mais lento, mas repleto manifestos populares como o movimento das Diretas Já, foi se encaminhando a volta da República Brasileira, que se consolidou novamente com o governo de José Sarney.

Movimento das Diretas Já - 1984
     Já no Chile, o fim da ditadura de Augusto Pinochet foi resultado de um movimento chamado NO, que surgiu de um plebiscito entre dar ou não continuidade ao regime ditatorial chileno. Assim como o próprio nome do movimento já diz, este era a favor da volta à democracia no Chile, deste modo, criou-se uma propaganda de incentivo à conscientização da população, culminando, automaticamente, em uma pressão de tão grande proporção que fez com que Pinochet renunciasse o cargo e declarasse o final da ditadura chilena no momento em que o “NO” foi a ganhar o plebiscito, então, após dois anos, Patrício Aylwin tornou-se o primeiro presidente após a redemocratização do Chile.

Cartaz exposto nas ruas do Chile durante a ditadura de Pinochet
     Muito semelhante com relação aos meios que promoveram a volta da democracia no Chile, a abertura política na Argentina também se deu através de manifestos populares que lutavam por eleições democráticas, tendo de início o desejo de que Perón assumisse o cargo de presidente, mas esse foi impedido por Alejandro Augustín Lanusse, o então presidente militar argentino, de se candidatar. Sob essa situação, o povo teve de encontrar outro representante com quem pudessem lutar e em quem pudessem acreditar; assim, Hector José Cámpora foi vitorioso nas eleições para presidente, tornando-se, então o novo e democrático presidente da República Argentina.
     Já no caso uruguaio o processo de abertura política ocorreu devido a um acordo chamado Pacto do Clube Naval feito entre Gregório Álvarez, a Frente Ampla, o Partido Colorado e a União Cívica. Esse acordo determinava a ocorrência de eleições diretas para a presidência do Uruguai, assim, em 25 de Novembro de 1984, o Partido Colorado sai vencedor, contudo, só no dia 1º de Março de 1985 foi quando um presidente civil assumiu o poder, sendo ele Julio Maria Sanguinetti.
     Na Bolívia, a transição para a democracia foi um processo conturbado politicamente, começou em 1978, mas só se concretizou por volta do ano de 1980. A redemocratização boliviana surgiu com a forte pressão interna e externa sofrida por Hugo Banzer Suarez, o até então presidente militar boliviano, para que ele convocasse eleições diplomáticas para presidente. Nestas eleições, a Unidad Democratica y Popular (UDP) saiu com a vitória; todavia, nenhum representante desse partido pôde assumir o comando logo em seguida porque no mesmo ano o militar Juan Pereda Asbum iniciou um golpe militar que invalidou as eleições. Além disso, ainda no mesmo ano, outro militar, David Padilla, lançou outro golpe militar que visava a anulação das eleições de 1979 e 1980, contudo, um fato inesperado ocorreu: um não candidato à presidência recebeu maior parte dos votos populares e foi escolhido presidente interino civil pelo parlamento até a realização das próximas eleições.
     A partir de 1980, a ditadura de Stroessner, no Paraguai, começou a decair devido à desaceleração econômica e a um novo golpe de Estado planejado por setores do Partido Colorado, ocorrendo somente em 1989 o golpe final que fez com que Stroessner saísse da presidência de vez. O governo paraguaio foi constituído de inúmeros golpes que tentavam travestir o governo autoritário vivenciado, buscando manter uma fachada diplomática e democrática; além disso, pode-se observar outra grande curiosidade sobre o período ditatorial no Paraguai: foram convocadas inúmeras eleições fraudulentas para presidente. Este fato, se visto por cima, pode não significar algo tão grandioso como de fato é, pois, se for analisado fria e profundamente, é possível concluir que havia instalado na alma da nação paraguaia um grande descontentamento com o regime autoritário, os paraguaios nunca abandonaram a ambição pela liberdade.
     Então, é possível observar que mesmo fazendo uso de diferentes meios de chegar até a redemocratização política, nenhuma nação estava contente com a cassação de sua liberdade. Tirar de um povo o direito de ir e vir, de se expressar e de lutar por aquilo que acredita é matá-lo e deixá-lo vivo.




Vitoria Ferraz


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